* * *

Existe o poço 


E a obviedade de sua profundidade 


Quase não há água lá  


Quase não chega a luz 


Precisa cavar mais 


E o fundo daquele poço nunca está satisfeito 


Sempre quer ir mais fundo 


Quanto mais fundo 


Menos luz 


Mais lama 


Que dependendo do dia está mais ou menos contaminada 


Contaminada com tudo aquilo que faz bem para alma 


Em pouquíssima quantidade 


Em excesso traz mazelas 


Incuráveis 


Intratáveis 


Impensáveis 


Um visgo que corrói a alma 


E puxa cada vez mais para o fundo 


Para que cave mais 


Para que afunde mais 




(Gilberto Caetano)



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