30.11.10

FOTOGRAMAS

Uma pequena observação fotográfica que tenho do mundo.

Mais fotos minhas em:
http://www.flickr.com/photos/gibacae















(fotos tiradas na Vila Maria Zélia/São Paulo/SP, 2009)

24.11.10

(Conto): 30

Que porra de clichê é este? Não era para ser uma crise, pô? No meio, ou quase, de sua vida e sem ter uma grande angustia, uma única fagulha de desespero por não ter realizado o que mais sonhou. Você não tem nada. Nada mesmo. BENJAMIM ANTUNES pode ter sorte. Não realizou metade do que planejou quando tinha 17 anos, talvez 15%. E ele sempre pensa: que foda-se. Não se importa. Ele acha que pode ter algum tipo de problema psicológico? Ou a crise dos quarenta é a que realmente pega?

Um anúncio nos classificados lhe chama a atenção enquanto procura uma casa de massagem qualquer:

---------------------------------------------
/ Precisa-se de Cobaia para /
/ Teste de Silêncio /
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Parece interessante.

- Aqui é um centro de pesquisa do som e isto é uma Câmara de Silêncio Absoluto.
- E o que essa câmara faz?
- Não faz nada. Silêncio absoluto. Hermeticamente selada para que nenhum tipo de som ultrapasse estas paredes.
- Pra quê?
- Para a indústria. Lugares que precise de uma concentração absoluta.
- Quanto tempo eu vou ficar lá dentro?
- Quatro horas.
- Quanto eu recebo?
- Noventa reais.
- Na saída da tal câmara?
- Na saída.
- Tá certo. Eu vou.

A preparação é simples. Benjamim nu dentro de uma sala branca, totalmente vedada, onde a porta de entrada é pequena e apenas uma câmera de vídeo para registrar todo o processo. As paredes, assim como o chão, são acolchoadas dando uma sensação de conforto. Três vezes uma pequena luz vermelha pisca e assim começa a experiência.

Acontece uma despressurização que deixa os ouvidos de Benjamim tampados, uma primeira reação que depois de alguns minutos passa. Realmente é uma câmara de silêncio absoluto. Nem um pequeno ruído dos computadores do lado de fora monitorando tudo que acontece se escuta mais. Nenhum inseto ou ar-condicionado. Nada. Muito estranho, apenas na morte pode-se pensar em algo assim. Benjamim fica fascinado pelas possibilidades de que uma câmara pode proporcionar. Seria preciso como nos dias em que ele precisa estudar e o vizinho escutando hinos evangélicos no último volume ou os garotos da rua fazendo barulho empinando suas motos. Seria relaxante uma dessas no quarto.

Apenas vinte minutos depois ele percebe que está escutando algo, uma pequenina batida. Ele procura nos cantos das paredes sem notar de que é o som de seu próprio coração. Ele põe a mão no peito e o sente mais forte. A batida é alta. Mais alguns minutos e ele também escuta o sangue correndo em suas veias pelo pescoço. Ele fica fascinado por escutar o ácido corroendo em seu estômago e o seu intestino trabalhando.

A cada momento que ele se esforça mais para escutar algo novo, seu coração está mais alto. Irritando-o. Benjamim bate forte no peito uma vez. Bate duas, bate três. Querendo que seu órgão vital abaixe o volume. O coração desobedece parecendo estar dentro do ouvido. Alto, alto. Desesperador para Benjamim.

Ele grita.

O voz reverbera nas paredes e volta com uma intensidade que faz seus ouvidos doerem. Sangrarem. Ele se encolhe no chão mas é impossível estar ali. Em menos de uma hora a loucura é eminente, a ponto dele tentar arrancar o próprio coração com as mãos e realmente tenta. A pequena porta é aberta e depois médicos entram antes que Benjamim se mate. Ele sai sentado em uma cadeira de rodas uma hora e quarenta minutos depois de entrar na sala de silêncio absoluto.

Benjamim que achava não tinha nenhum tipo de crise em sua vida, desde hoje, deste teste, ele terá um conflito permanente com seu próprio corpo.   




(Gilberto Caetano)

16.11.10

(Conto): A MENTE É UM LUGAR ESTRANHO

Como seria se eu quisesse me matar? Será que encontraria um método que não doesse tanto? Porque uma morte sem dor é o que todo mundo quer. Sem sofrimento. Sem piedade. Mas qual seria a melhor? Não uma estúpida para aparecer na Internet em listas do tipo: “As 10 Mortes Mais Ridículas”. As pessoas ainda duvidariam que alguém possa morrer desse ou daquele jeito estúpido. E o que é uma morte ridícula? A do homem que trabalhava em um circo e enquanto limpava o chão atrás de um elefante, o paquiderme cagou em cima de sua cabeça e morreu asfixiado pela merda ou a mulher que andava pela calçada e caiu um jarro de flores em sua cabeça de uma altura de 16 andares ou a criança que brincava no quintal e... Não posso ser um suicida qualquer. Tenho que ser um suicida com estilo.

Eu não posso me matar assim sem nenhuma pesquisa. E o que os meus parentes iriam pensar? Sentiriam toda a culpa por não terem me amado e blá e blá. Humm... eles que se danem... Preciso fazer uma pesquisa, não em livros ou na Internet – mesmo porque não confio em sua informações geradas de boatos –, preciso de uma fonte fidedigna. Qual? Um médico? Posso entrevistá-lo com a desculpa de que estou escrevendo um livro. Não, palavras são só palavras, por mais que alguém tenha uma boa percepção e imaginação sobre o que é a morte, nada se compara ao que é real... real? Isso! Real!

Vou seqüestrar uma pessoa, talvez duas. Amarrá-las e aplicar um tipo de morte no qual elas não sofram e aí sim faço o mesmo em mim. Genial, garoto.

Tudo tem que estar bem planejado. Enquadrado na previsibilidade. Seqüestro um homem ou uma mulher? Velho ou criança? Onde eu iria matá-las? Não na minha casa. Tenho que alugar um galpão ou algo parecido afastado do centro da cidade. Preciso de um carro grande. Alguma substância que as façam dormir. Quem seriam essas pessoas? Ando pela rua para ter idéias. Quem sabe se fosse um desses “Azulzinhos” que distribuem multas nas ruas nos carros estacionados, muita gente iria me agradecer.

Quem sabe pessoas que conheço? Se forem pessoas conhecidas eu teria que ir ao enterro fingindo estar emocionado, simular choro... horrível. Não sou um bom ator. Isso está ficando complicado demais. É prejuízo matar uma pessoa:

a) Locação (Casa, Apartamento ou outro lugar qualquer);
b) Carro + Gasolina;
c) Remédios;
d) Corda;
e) Aparelhos diversos para matar.

A + b + c + d + e = a um dinheiro que eu não tenho. Devo ter menos de 200 reais no banco, não cobre uma morte. CLARO!! Posso matar um Parente!! Vou na casa dele – corta o gasto de locação e gasolina – e mato com o utensílio que tiver na cozinha. Fantástico! Também pode ser uma ex-namorada... Pensando bem eu só tenho três ex-namoradas e elas são legais. Besteira. Mas até que uma ex-namorada deve ser a melhor opção, uma que não guarde nenhuma mágoa de mim. Que não tenha nenhum ressentimento. Além do mais, é mais fácil dominar uma delas do que um homem. Não a Joyce. Ela sempre foi mais forte do que eu. Já chegou até a me bater.

Qual delas eu mato? Qual delas... E o mais importante, como? Deus! Eu preciso de uma luz!! Caminhar faz bem. Ando por uma grande passarela por cima de uma estrada que leva ao litoral. Paro, penso mais, isso está me esgotando. Não como há alguns dias pensando nas varias formas de assassinar uma pessoa, dizem que até se enfiar uma agulha no umbigo ela pode morrer. Asfixia, atear fogo, injeção letal. Mas qual não sente dor? Não sente desespero?

Estou sozinho nesta passarela. Vem em minha direção uma senhora idosa. Deve ter uns 70 anos ou mais. Coitada...

He, he, he...

Não penso mais de três vezes até criar a coragem necessária de empurrar a velha da passarela. A altura deve ser de 20 ou 25 metros. Se por um milagre divino ela sobreviver, algum dos vários carros que passam lá em baixo irá atropela-la e não há escapatória. Se ela sobreviver a queda estará inconsciente ao ser atropelada e então não vai sentir nada quando morrer. É só um teste, garoto, vá em frente!

A velha parece pesada. Ninguém por perto. É um sinal. Certo... certo...

Pego a velha. Ela é mais forte e pesada do que aparentava. Luta bem, arranha o meu rosto, chuta o meu saco... velha filha-da-puta difícil de jogar. Ela agarra o meu pescoço. A pego e aperto uma das pernas e a bunda, a levanto contra o parapeito. Ela grita até ficar rouca, sua dentadura cai no asfalto e quebra em zilões de pedaço. Ela com certeza vai morrer!! Legal. Força, cara! Força, cara!

A velha implora e vejo as lágrimas petrificadas de medo em seus olhos ficarem cada vez mais longe de mim até o chão da auto-estrada. Um carro consegue desviar, um caminhão não. A velha fica presa por baixo do caminhão que a arrasta por 200 metros até parar. Com certeza a senhora morreu na queda e nem sei seu nome.

Mas e um jovem como eu? Humm... Talvez também morra na queda.

Mesmo que eu quisesse apertar o botão Rew do controle-remoto, o processo de pesquisa já começou. Há mais duas ou três que quero fazer. O Sol quente frita o meu cérebro já cansado.



(Gilberto Caetano)

9.11.10

* * *

- Sabe, cara. Eu estava pensando numa coisa muito estranha hoje.
- Tipo o quê?
- De onde surgem as realidades alternativas?
- Pior. De quais mentes estranhas saem estes personagens esquizofrênicos dos filmes?
- Quem gerou o Kubrick? Digo, quem colocou aquele monte de ideias na cabeça dele?
- Quem bolou a cena da privada de Trainspotting?
- Melhor. O que o cara usou para criar aquela cena?
- Clássico underground.
- Ééé. O que Bukowski estava pensando quando escreveu Quinze Centímetros?
- Eu não li esse.
- Caralho, cara. Quando será que pensaram que o homem poderia pisar em Marte?
- Ninguém pisou em Marte ainda.
- Não?
- Ainda não.
- O que será que as pessoas sentem quando criam algo?
- Sei lá. Eu fico impressionado é com a capacidade que uma pessoa tem em escrever no Twitter. Eu não tenho tanta besteira assim pra dizer.

2.11.10

FRAME: Como Declamar Drummond, 2004

Em 2003 foi proposto como exercício do Núcleo de Cinema e Vídeo COM-OLHAR com o objetivo do grupo dividir-se em duplas e produzir quatro curta. Minha parceria foi com Thais Scabio (na época éramos apenas amigos). Eu já havia dirigido dois curtas (Um Fechar de Olhos e Ecos do Ecocine) com estreia marcada para aquele ano e estava empolgado para fazer o primeiro curta com todas as decisões criativas também minhas. Queríamos homenagear de alguma forma Carlos Drummond de Andrade e Charlie Chaplin e o curta se chamou Como Declamar Drummond.


Produzimos inteiro dividindo todas as funções entre nós dois. Um dia antes da filmagem, ainda faltava um ator para um dos personagens. Eu estava andando pela rua no centro da cidade para ver se encontrava algum ator perdido disposto a trabalhar de graça no curta, não encontrei e liguei de um orelhão para a Thais, achando que ela teria alguma solução e neste mesmo instante, vi passando do outro lado da rua, Rafael Trevigno. Desliguei o telefone e fui correndo falar com ele, ele aceitou o convite. Com uma câmera Super-VHS emprestada do “chefe” Diogo Gomes dos Santos e mais 20 reais gastos na produção, inteiramente gastos no lanche dos atores junto com algum vale refeição que Thais pegou emprestado da irmã, filmamos em um único dia no teatro Clara Nunes no Centro Cultural Diadema antes da reforma.


Um ano depois, o Diaulas Ullysses editou “na faixa” em sua produtora e junto com os outros curtas do Núcleo COM-OLHAR (Todo Dia Ela, Tao e Pisada Marcantes) foram exibidos pela primeira vez em 2004. E neste mesmo ano nosso pequeno curta ganhou o Primeiro Lugar no Prêmio Plínio Marcos na Mostra de Artes de Diadema.
Um curta simples e hoje eu o vejo até ingênuo que selou minha parceria criativa (e ainda mais) com Thais Scabio e um pequeno embrião do que seria futuramente a Cavalo Marinho Audiovisual.

Assista o Curta COMO DECLAMAR DRUMMOND:


Direção, Produção e Roteiro
GILBERTO CAETANO e THAIS SCABIO

Atores:
DOUGLAS GODOI
UYARA SCHIMITD
BRUNO FERNANDES
WILLIAM FIGUEIREDO
RAFAEL TREVIGNO

Edição
DIAULAS ULLYSSES

Making Of
ROBY MORAES

Este é um pouquinho da minha história que será registrada como FRAME no meu blog. 

Veja também:

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