28.6.12

* * *


- Silas, não cobiçais a mulher do próximo!

- Mas o próximo não está próximo!




... 

22.6.12

* * *


No inverno

As pessoas são mais elegantes

No verão

As pessoas são mais fogosas.




...

19.6.12

* * *


E Tim Maia disse (mais ou menos assim):

- O Brasil não tem como dar certo enquanto puta se apaixonar, cafetão tiver ciúmes e pobre ser de direita.





... 

16.6.12

(Conto): PEDRO E O PÉ DE MACONHA


- Sua vida agora é uma merda... mas quem sabe?
- Obrigado – responde Pedro ao pequenino Mosquito Vermelho que pousou em seu ombro.

Ao mesmo tempo que Pedro – descendente de Samurais enterrados no jardim nos fundos do sítio – escuta o Mosquito, sua Mãe também fala enquanto faz a comida apressadamente para sair para trabalhar nas ruas. Ele entende o que sua mãe quer dizer e essas palavras são duras. Sente fundo no coração, como diria um texto de telenovela. Ele vai ao banheiro lavar o rosto após argumentar de várias formas possíveis, mas já era decidido: Sua Mãe exigira que Pedro acabasse com suas atividades de vagabundice imediatamente. Nada de noites regadas a vinho, cerveja e vodcar ruim, nada de ler Charles Bukowski, Alan Moore e Frank Miller. E o que sobra para um jovem de 25 anos?

A Mãe sai para trabalhar. Pedro vai para o quintal do sítio alimentar a Vaca, a única amiga de Pedro neste momento. Ele tem também um Bode Velho que fica ao lado do túmulos dos Samurais mas não serve para nada. Todas as noites Pedro alimenta a vaca com uísque, que no outro dia dá leite alucinógeno de baixo teor que os malucos da região vêm para beber e fazer farra com o animal mamífero, artiodáctilo e ruminante. Pedro é o gigolô de sua Vaca. O sítio fica ao lado de um enorme canavial, os malucos saem de lá, bebem o leite e fodem a Vaca. Pedro tem que pode ser chamado de puteiro animal com uma empregada.

Esta noite está fraca, apenas dois caras vão rapidamente. Pedro está guardando a Vaca no cercado quando aparece um cara de cabelo não definido entre o crespo e o liso cheio de fungos verdes que nascem pequenos cogumelos cor de abóbora chamado Boca Santa.

- Quando é a fodida na Vaca?
- Já encerramos hoje.
- Por quê? A vaca está aí.
- 10, meia hora.
- 10? Putz. Eu não tenho dinheiro.
- E esse cogumelo que nasce do teu cabelo?
- Cada cogumelo desse dá pra comprar duas vacas dessa.
- E o quê você tem pra dar em troca? Você não quer foder minha vaquinha de graça?

Boca Santa tira duas sementes enormes de dentro da bolsa.

- Pra quê eu quero caroço?
- Uma dessas sementes é de cânhamo e a outra de papoula. Você pode evoluir de um gigolô de vaca pra um pequeno traficante. Fácil, fácil. 
- E qual é a de papoula?
- Sei não. Vai ou não.
- As duas?
- Uma delas.
- Tá.

Boca Santa dá uma das sementes para Pedro, e como o título deste conto sugere, sem surpresas, você já sabe que semente ele tem. Boca Santa mete na Vaca com muita vontade, goza rapidamente e depois volta para o canavial.

Pedro com a grande semente nas mãos, recolhe a Vaca. Senta em frente ao curral. Deixa a semente no chão. Pensa um pouco sobre o que fazer para sua mãe não lhe encher e quando percebe o Bode Velho engoliu a semente. Pedro, grita, xinga, aperta a garganta do bicho para que cuspa seu futuro de pequeno traficante. O Bode Velho reluta e morre engasgado, uma pena. Pedro o chuta por três minutos sem interrupção. Quem sabe poderia pegar uma faca e abrir sua garganta? Pedro não tem coragem, o enterra ao lado dos seus ancestrais.

Não demora muito a cabeça do Bode Velho está para fora. Pedro a enterra novamente e novamente a cabeça está para fora da terra, agora com pequenas folhas saídas de sua testa. O jovem pega esterco recém-produzido, aduba a cabeça do animal morto, rega e reza.

A reza trás de volta as Almas dos três Samurais, ancestrais e Pedro e a alma do Bode Velho. Pedro cai para trás. Primeira cara de perplexidade de Pedro.

- Você é uma vergonha! – grita um dos Samurais.
- Você não é nosso descendente! – grita outro.
- Você cobra muito barato pela Vaca! – grita o terceiro – Faz tempo que eu quero dizer isso.
- Pô, meu – diz Pedro – Olha o fim de mundo que vocês trouxeram nossa família. Não tem nada pra se fazer aqui. Ou eu corto cana ou eu fodo com a Vaca. O culpado são vocês. Vocês nos foderam.
- Será?
- Talvez nós fizemos isso com eles?
- Eu só peço pra vocês que deixem essa planta crescer, me tornar um pequeno traficante. O quê que tem? Não tem nada.

A alma do Bode Velho abre a boca tão grande quanto de uma casa e abocanha por inteiro os três Samurais, se torna um pequeno redemoinho e entra dentro da cabeça do Bode já apodrecendo na terra com folhas saindo de sua cabeça. O chão treme... treme... treme. A cabeça explode quatro vezes, pedaços para todos os lados de carne podre, crânio e bosta.

Cresce um enorme e magnífico PÉ DE MACONHA. Segunda cara de perplexidade de Pedro.  

- Que maravilha... minha mãe vai me matar...

Mais um motivo para este pensamento de Pedro, uma das raízes da gigante planta destrói por completo a casa simples e aconchegante. A única coisa que sobra no terreno é o Bode Velho.  

- Agora sim, você se fodeu, Pedro – diz o Mosquito Vermelho.

Pedro sobe rapidamente pelo Pé para fugir da mãe antes mesmo dela chegar. Um grande Pé de Maconha como este não pode passar despercebido pela cidade.

Quando amanhece e todos os homens e mulheres escravos do capital acordam para trabalhar, todos ficam surpresos, mesmo alguns não sabendo o que aquela planta é. Mas a noticia se espalha. Primeiro os pequenos traficantes locais chegam antes e discutem entre si como faturar com a planta. A polícia cerca o sítio antes mesmo que ação seja feita. Os políticos estão juntos. A mídia também. A mãe de Pedro furiosa vê sua casa totalmente arruinada.

- Peeedrooooo! - claro que ela grita.
- Já era minha vida – diz Pedro num dos galhos mais altos do pé.
- Por que você não desce e enfrenta a sua mãe...

Pedro mata o Mosquito Vermelho com um só golpe. Com mais medo de que sua mãe suba no Pé atrás dele, o jovem vai até o topo da gigantesca planta. Lá, enquanto descansa, vê um balão se aproximando rapidamente e pousando ao seu lado. Do cesto do balão desce Lagartixa, o homem mais estranho que Pedro já tinha visto, magro, cabeludo, baixo, meio caipira. Ele veio ver a planta de perto, algo que nunca teria imaginado.

- Maaaasssa, véiooo.
- Tão massa que essa porra arruinou a minha vida.
- Quando eu vi na TV achei que era efeito especial.
- Essa porra tá na TV?
- Véio, tá vindo gente do país inteiro ver esse Pé. Eu vim pegar um pedaço da folha e colocar na minha parede como recordação porque isso vai se tornar uma relíquia.
- Relíquia?
- Você acha que esse Pé vai durar muito? Você acha que isso vai durar pra sempre? Vão derrubar essa porra e você vai cair junto de não se mandar.
- Deixa eu ir com você?
- Putz, véio. Só cabe eu e a folha.

Lagartixa corta um grande pedaço de uma das folhas mais próxima deles, coloca no cesto e vai embora. Pedro está sozinho novamente, aliás, como ele sempre esteve. 

O Pé não fica parado, ele cresce mais, cresce até as nuvens. Com o tempo, multidões se formam em volta dele. Curiosos, místicos, vagabundos loucos, apreciadores da erva loucos para  fumar e claro os Conservadores. Aqueles homens e mulheres sacanas que fodem a criatividade e ações dos outros, eles empunham cartazes contra o Pé. O quê o Pé fez contra eles mesmo? Aquele exemplar não é uma simples planta, é a maior do mundo, uma espécie que talvez nunca mais possa existir. Um belo argumento dos cientistas, mas os Conservadores gritam e babam como cães no mês de Agosto contra o Pé.

- Ô vidinha chata essa minha – ele zomba e ri, sossegado lá em cima. Mesmo com fome. Mesmo pensando em mascar um pedaço de folha. 

Vidinha que será mais emocionante agora que os Conservadores, obstinados em explodir o Pé, de tanto gritar que a existência de tal planta gigantesca, que pode ser vista do espaço como a Muralha da China, é uma apologia às drogas, precisa ser destruída e é isso que acontece. Os adoradores da maconha ficam putos, mas a polícia está do lado da lei de alguns e conseguem acabar com a passeata Pró-Pé e especialistas colocam explosivos em volta da planta.

Pedro está ali, sem saber de nada. Cansado de não fazer nada, sobe até o topo do Pé de Maconha novamente, um lugar quase sem oxigênio, quase desmaiando ele escuta uma voz feminina, doce e sedutora, uma mulher negra, careca, nua, envolta em uma linda, colorida e brilhante nebulosa.

- Uau. Você também veio pegar uma folha?
- Não, vim te pegar.
- Pra quê? Se eu descer minha mãe me mata por causa dessa confusão. Peraí, você é um anjo? 
- Não.
- É o diabo?
- Não.
- Você é o que então? 
- Uma mulher bonita no meio de uma nebulosa.
- Fala a verdade vai.
- Tá bom, tá bom. Eu vim pegar uma folha dessas. Como você acha que eu mantenho essa nebulosa? Aí eu te vi, te achei bonitinho e quero te levar pra casa. Tem algo errado nisso?
- Ah, não.

Pedro entra na nebulosa brilhante e colorida e vai para longe. Longe do Pé de Maconha, de sua Mãe, dos Conservadores e das Bombas.

Os Conservadores, sempre precipitados, apertam o botão vermelho e uma grande explosão desloca o ar e faz tremer o chão. Todo o Pé de Maconha vai para os ares literalmente, queimado, em bilhões de pedaços. E esses pedaços de maconha caem como chuva por toda a cidade. Todos podem levar um pedaço para casa. Ilegalmente, claro.  



(Gilberto Caetano)





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10.6.12

7.6.12

* * *


A parede com os astros mortos

Enquadrados

Preto e branco

Gays, lésbias, bissexuais, ninfomaníacas, depressivos

Mortos

Gerando lucro para os estúdios

Fingindo estereótipos que a direita adora

Fantasmas em P&B 







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4.6.12

* * *


E ele disse:
- Graxa é coisa de Macho!

E o outro respondeu:
- Mas quem liga pra porra da graxa?

(ou seja)




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1.6.12

FOTOGRAMAS


Uma pequena observação fotográfica que tenho do mundo.



Da Janela da Cavalo Marinho Audiovisual, 2012










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Veja também:

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