14.11.12

(Conto): PEDRO E A PRIVADA CINEMATOGRÁFICA

“Tudo gira, tudo choca e tudo colide”. Seria assim que Pedro iniciaria seu filme, com esta frase, ele apenas copiou algo parecido de uma contracapa de um DVD do show do Led Zeppelin. Ele pensa nisso enquanto dá a descarga no banheiro da casa de seu amigo Rafael. Uma bonita privada e ainda mais quando a água desce rápida e em grande volume. O giro é anti-horário. Até que hipnotizante. Pedro volta para o quarto. Lá, além do amigo e filho do dono da casa, estão Patrícia e Dinho. Maconha – o que sobrou do pé gigante – e Led no rádio, Nobody’s Fault But Mine.

- Sobre o que vocês estão falando?
- Crepúsculo.
- Tá de brincadeira?
- Sério. Patrícia acha que as garotas sonham com um cara que pense no coração delas pulsando e não na vagina pulsando.
- Desde quando você é sensível assim, Patrícia?
- Eu sou sensível só não demonstro pra esse mundo cruel.
- Cruel e hipócrita.
- Ééé. Deixa eu dar um trago.
- Sabe, eu tenho um ideia pra escrever um livro – diz Dinho envergonhado.
- Sobre o quê? – alguém pergunta.
- Um jovem que escreve um livro, vai em várias editoras, é rejeitado, anda pela rua com o livro encadernado, senta em um banco e chora. Uma antiga amiga passa, eles conversam. Ele acaba jogando o livro no latão. Isso significa que ele está desistindo do seu sonho. O que vocês acham?
- Você tá falando sério?
- Livro bobo.
- Você é tão pirado, Dinho. Porque escrever uma merda dessa?
- História de merda.
- Vamos bolar mais um que a gente cria alguma coisa melhor que isso.
- Bola aí, Patrícia.
- Nada. Eu vou no banheiro.
- Bola aí, Pedro.

A garota vai para o banheiro. Pedro pega a seda. Rafael dixava a maconha. Dinho pensa.

- AAAAAAAAAAAAA.
- O quê foi, Patrícia? – pergunta Pedro.

Ela não responde.

- Patrícia?
- AAAAAAAAAAAAAAAAA.
- Parece sério.
- Eu vou ver.

Dinho vai até o banheiro. Ele vê a garota com as calças arriadas.

- Pedro, Rafael. Vem aqui.

Eles chegam.

- Quê?
- Dá uma olhada na Patrícia.
- Ela mijou na calça?
- AAAAAAAAAAAAAAA.
- Para de gritar, o que foi?
- Olha na vagina dela.
- Vixê, Maria.
- Minha xoxota sumiu!
- Como assim sumiu.

Pedro coloca rapidamente a mão dentro da calça.

- Graças a Deus. O meu tá aqui. Dinho o teu tá aí?
- Tá - conferindo.
- Rafael?
- O quê?
- O teu pinto.
- Tá aqui, tá aqui. 
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAA.
- Todo mundo fica calmo agora – diz Rafael. – Bola aí, Pedro.
- Como eu vou ficar calma se a minha xoxota sumiu?!      

Onde antes havia uma vagina rosada, agora aparece algo como um joelho dobrado.

- Caramba, velho, como isso aconteceu?
- Pega uma faca na cozinha. – Dinho fala.
- O quê?
- Pra quê faca?
- Pega uma bem afiada – continua Dinho – nós vamos cortar e eu lhe garanto, Baby, você vai ter sua xoxota de volta. 
- Você vai me operar?
- Tem certeza que a gente não tá loko demais e a vagina tá lá mas não vemos?
- Eu estou tentando mijar aqui mas não sai nada, passa a mão.

Eles passam.

- É mesmo. Isso não é loucura.
- Eu vou lá pegar a faca.

Dinho sai.

- Entra na privada. Vai ver que caiu lá dentro.
- Essa porra virou Trainspotting?
- Eu não sou rato pra andar no encanamento da privada?
- Uma pessoa descendo pela privada é surreal pra caralho.
- Que coisa não é surreal depois que perde a xotota?
- Os caçadores da vagina perdida.
- Vai ver ela nunca teve boceta.
- Ela mija por onde, cabaço?
- Eu dei ontem!
- Pra quem?
- Você não conhece.
- E foi tudo normal?

Dinho volta com uma faca para cortar carne de churrasco. Afiada como o diabo.

- Vamos cortar essa porra – Dinho diz.
- Não! Ninguém vai me cortar.
- Pensa nas transas que você já teve...
- Você é louco? – diz Rafael.
- Por quê?
- Se ela lembrar de alguma vez que foi ruim aí ela não vai querer a xoxotinha de volta.
- Ah, não. Eu quero sim. Eu tenho mais bons sexos do que maus sexos.
               
Pedro termina de bolar a maconha.

Rafael segura Patrícia.

Pedro pega o isqueiro.

Dinho aponta a faca.

Patrícia treme.

Pedro deixa o isqueiro cair aceso dentro da privada. As chamas não apagam, a luz continua mais forte, apontando direto para teto e a vagina é projetada como num filme no cinema. Os quatro ficam perplexos.

- É sua vagina?
- É-é, m-minha, v-a-g-i-n-a.
- Bela vagina.
- Alguém já tinha visto?
- Não.
- Também não.
               
Quase como um monólogo surreal os quatro ficam maravilhados. Por horas. Deitados no chão do banheiro esperando pela próxima cena.           



(Gilberto Caetano)

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Um comentário:

  1. So vc mesmo. Cronemberg e pornochanchada. Parece coisa do carlao. Soh falta a japonesa. Ri muito. Abco.

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