12.1.11

(Conto): GONE


MATT BYRNE é “o cara”, norte-americano, nerd puro, que nunca quis curtir nada além de seu trabalho. Principalmente depois que numa noite inspirada concebeu o seu mais precioso projeto depois que terminou seus estudos no MIT: O site de relacionamento chamado GONE. Ele teve uma ideia que até então não parecia nada revolucionária, a de que os usuários ao criarem seus avatares colocariam todas as informações possíveis sobre si. Exatamente todas. Desde a altura e peso, signo, testes psicológicos para conhecer sua real personalidade, histórico familiar, todas as pessoas com quem já se relacionou. Tudo transformado em bytes, num avatar idêntico ao real. Um body pocket muito mais evoluído. 

- Não é só isso – continua Matt – é muito mais, o software munido de todas essas informações ao criar o seu reflexo virtual quando você não estiver desconectado, ele ainda estará lá, ainda agindo, como se fosse um vírus, interagindo em tempo real com outros avatares. Conversando, conhecendo novas pessoas virtuais, registrando novas informações.
- Ele adquiri A.I. Porque esse parece um princípio de inteligência virtual, algo não criado – comenta um dos investidores do Vale do Silício.
- Não, não, não. Infelizmente eu não criei um programa para gerar A.I. Gone na verdade  armazena as informações que seus pares virtuais buscam, como livros, filmes, novas amizades  mas tem que esperar para registra-las no banco de dados. Sem a autorização do seu par em carne e osso, ele não consegue isso.
- Isso está me parecendo mais um site de busca.
- Não, eu acho que não – diz Matt totalmente confiável em suas ideias, plenamente satisfeito em sua fala.
- Eu banco o projeto – diz o investidor.

Um ano e meio depois Gone está na rede e se espalha rapidamente com quase sessenta milhões de usuários acessando o site e se relacionando com outras pessoas e quando o par real dorme o par virtual busca novos mundos interessantes.

Matt foi o primeiro usuário de seu projeto, seu nickname é MATTBIRD. Através de Mattbird ele conhece uma namorada, que logo se torna esposa, conhece uma banda de jazz e começa a compor com eles através do site, conhece primos que nunca viu. Seu novo melhor amigo. Mattbird é o irmão mais velho de Matt que lhe abre as janelas do mundo e lhe ensina a viver nele.

Ao contrário do mundo virtual, este aqui de átomos ainda é passível de fatalidades e Matt morre em um assalto na saída de uma lanchonete. Todos ficam comovidos. Matt era um cara legal.

Mattbird é o que mais sofre, ele continua ali em Gone, colhendo informações, esperando              que seu par real o atualize, o que nunca mais irá acontecer. Neste ambiente em que as informações correm rapidamente e novidades não passam mais do que uma semana, Mattbird está obsoleto. Está ficando para trás. O cara que fica no canto da sala de aula, sozinho, com cara emburrada enquanto os colegas riem das histórias dos outros.

Em um ano e meio Mattbird está sozinho sabendo o que é o suicídio sem poder realizá-lo. Um software com saudades. Mattbird não pode ser deletado, vivendo eternamente uma depressão virtual. 




(Gilberto Caetano)

Um comentário:

  1. É ,a eternidade não é para os humanos e as solidão não é para os softwares... Nice!

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