O inverno dentro do peito
O aperto no estômago
Contagia o corpo
Treme as mãos
Deixa a cabeça doendo
E pensando besteira
A Dona Morte sussurra pelos cantos da rua
O peito continua oprimido
Precisando respirar
Mas o ar é poluído
É tenso
É escasso
É o cheiro de merda que precisa entrar pelo nariz
Os anos passando e tudo fica mais pesado
Nada alivia
O gozo é momentâneo
Um prego na cabeça
Que o grande martelo místico que bate cada vez mais forte
O inverno dentro do peito não passa
A neve escorrega pelo esôfago
O coração é apenas um cubo de gelo
Querendo estar num copo com caipirinha
Toda a vontade que corria pelas veias está quase no fim
Talvez melhor o inverno por dentro do que oco
Descontando no sexo algumas todas as frustrações
Descontando na escrita todo desejo de violência e morte.
(Gilberto Caetano)
>>>