19.10.10

* * *

É impressão minha ou há muitas formigas por aqui?
Pelas minhas paredes
Comendo as minhas plantas
Querendo tomar o meu suco
Fodendo com o teto de gesso.

Querendo o meu fígado no café da manhã
Com pãozinho e pingado
Querendo a minha namorada.

Há formigas no meu quarto
Me sufocando
Andando pela minha língua.

Será que continuarei falando como antes?
  

13.10.10

5.10.10

(Conto): HORROR EM SANTO ANDRÉ

Existem algumas histórias que deveriam ficar escondidas no quartinho escuro de nossas mentes. Mas  elas ainda correm por aí e com um pouco de sensacionalismo de minha parte, peço que pare de ler este conto se sentir-se enojado ou uma indignidade querendo agir como Dexter e seu senso de justiça desajustado. Esqueça. Já o fizeram.

É como se estivesse acontecendo agora, sem aviso. Numa noite sem dia ou mês, apenas em 2009, mais uma ocorrência que o SAMU é chamado e tem que cortar rápido as ruas de Santo André, na Grande São Paulo, até uma casa, a mais bonita da rua. Os dois SOCORRISTAS (um jovem homem e uma mulher com mais de 10 anos de profissão) batem palmas, chamam, gritam e uma voz rouca angustiada responde que o portão está aberto. Eles atravessam um corredor, o quintal, estreito e mal iluminado. A porta de entrada da casa é na cozinha, cômodo grande. Há alguns pingos do que parece ser sangue no azulejo engordurado e pelo chão, uma faca jogada sobre a pia também com sangue.

- Senhor? Onde o senhor está? - perguntam os Socorristas.

O cômodo seguinte da casa, um lavabo, está com a porta trancada.

- A porta está trancada.
- Senhor? Foi o senhor quem chamou o SAMU?
- Abra a porta.
- Foi o senhor quem chamou?
- Eu queria... espera... –  murmura o homem.
- Abre, senhor.

Porta destrancada. A socorrista empurra a porta.

- Santo Cristo.

A pia está toda coberta de sangue. O lavabo é pequeno. Sobre a pia há um grande espelho na parede que chega quase até o teto. Ele vê um homem refletido no espelho, com cerca de quarenta e poucos anos, em pé com a calça abaixada até os joelhos e um bebê morto nas mãos.  

Os socorristas o arrasta para a cozinha e colocam o bebê sobre a mesa. Este homem, em um ataque de desejo incontrolável, estuprou sua filhinha de 6 meses de idade, o pênis rasgando a minúscula vagina. A dor refletida no rosto da nenê. O maldito pênis esmagou seus órgãos. A bebê morta ainda está com o pênis dentro de si, por isso o sangue no chão, ele tentando tirar o cadáver de seu instrumento de tortura. Morta presa ao pai. Os socorristas não conseguem tira-la e os levam para o hospital.

Na parte de trás da ambulância, o homem deitado na maca, aguardando ansioso para que o livrem do peso.

- Não era pra mim ter feito isso – diz o homem quase chorando, quase implorando, querendo se passar por um quase coitado.

No hospital, ele é carregado numa maca, um lençol branco sobre seu corpo manchado de sangue. Ficam numa sala, esperando. 

Dois policiais militares, um SARGENTO e um CABO, chegam para averiguar a ocorrência. A essa altura todos no prédio sabem sobre aquele monstro. Uma revolta, medo de tumulto, de justiça pelas próprias mãos. Os policiais vão até a sala com médicos e enfermeiras. Ao entrar na sala, o Sargento pede para que uma delas tire o lençol. O Cabo fica transtornado, tomado por uma dor insuportável que comprime seu coração e sua mente, a sala parece sem oxigênio e a única forma de voltar a respirar é cortando essa terrível contenção a bala. Ele dispara dois tiros na cabeça do estuprador e mais um no pescoço. Ninguém quis impedi-lo, ninguém no hospital se assusta com os três estampidos.

            O maldito está morto, como a inocente filhinha ainda presa. O Cabo está em estado de choque. Será afastado permanentemente por problemas psiquiátricos. Uma história baseada em fatos que realmente aconteceram e que poderia ficar esquecida, mas ela ainda corre por aí. 


(Gilberto Caetano)

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