17.6.09

(Conto): O AMOR CORRÓI



Existem certas coisas que pensamos serem impossíveis, em que neste nosso século, há pessoas dispostas a qualquer coisa pelo amor. Muito bonito, né? CRISTIANE CABRAL mora em uma cidade do Grande ABCD, garota sincera e apaixonada por seu patrão. Ela, extremamente tímida, não consegue dizer duas palavras sem gagueja e não mais do que duas. Sempre.
- Você pegou aqueles sapatos no estoque?
- S-sim... ééé...
Mas Cristiane é legal. Possui grandes amigas na loja de sapatos em que trabalha. Uma família protetora. E um início de depressão. Uma angustia crescente em teu estômago. Cansada de não conseguir falar mais de três palavras para o homem que está apaixonada, procura uma Mulher, que se diz mãe de santo e detentora de poderes para conseguir o amor de sua vida, como diz o folheto que Cristiane pegou na rua, entregue por uns desses meninos mal vestidos e necessitando de grana.
- Minha, fia, relaxa que o amor desse homem é teu, só fazê direitin u qui eu dissé: Pega um bife, dá umas marteladas até ficá macio, passa mel, escreve teu nome num papel, o nome do cara que cê qué e enrola os dois no bife bem enroladinho e envia na xana.
- Na vagina? Tem certeza?
- Oxê, muié! Se não botá fé, num funciona. Cinquenta pau.
Cristiane depois da consulta passa no supermercado comprar os ingredientes do feitiço. Ela trabalha na loja de sapatos por uma semana esperando que surja algum resultado. Seu patrão não aparece na loja por duas semanas. Quando ela pergunta porque, o gerente lhe responde que ele está de férias viajando com a família.
Num dia, num almoço ordinário de todos os dias, a mãe de Cristiane sente um cheiro de podre, procura na casa, pelos quartos, atrás de algum rato ou outro bicho qualquer morto por algum cômodo da casa. No almoço, Bife Rolê, Cristiane levanta com enjôou. Ela pára de trabalhar e tranca-se em seu quarto. Um mês depois o cheiro podre está forte em toda a casa. Em mais um mês a podridão está nas casas vizinhas. A mãe procura a fonte do odor por todo canto até chegar a porta da filha. A origem está ali e a velha pressiona a filha para dizer o que está acontecendo, já que vem do seu quarto. Ficar agora ao lado de Cristiane é insuportável.
Ambas vão ao ginecologista. Quando Cristiane deita-se para ser examinada, o médico vomita ali mesmo, na primeira olhada. Há bigato por fora e por dentro da vagina. O horror, o horror, como diria o coronel Kurtz se visse aquilo na selva. A operação foi imediata. Os bigatos já estavam corroendo por dentro. É retirado o útero, as trompas e os ovários e mais metade do intestino.
Seus amigos e colegas de trabalho nunca souberam se Cristiane está viva ou morta. Já que a infecção atingiu sua corrente sanguínea. Ela e a família sumiram depois das operações. Seu patrão nem percebeu que perdeu uma das funcionárias. A vida arruinada por uma mãe de santo fajuta não disse a Cristiane quanto tempo tinha que ficar com a “macumbinha” dentro de si?

Ah... e toda vez que você comer um belo Bife Rolê, lembre-se de Cristiane Cabral.


(Gilberto Caetano)

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